quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Pintando nossos corpos com nossas cores


Caixa com 12 cores extrapolam o velho "cor da pele"  rosinha


Quando era criança, pegava a minha caixa de lápis de cor e ficava bons minutos para escolher (entre as poucas opções de cor), qual seria aquela que iria colorir a pele dos meus desenhos de infância: me restava o preto, um marrom e um tal "cor de pele".

O pior é que aquela cor "roseada" não era a minha, nem do meu pai, nem do meu avó negro...Mas assim como eu, milhões de crianças no Brasil saíram por aí enchendo corpos de cores rosinha.

"Facibuquiando", descobri o lançamento da caixa de giz de cera com 12 opções de cor de pele. O produto é fruto de um belo trabalho de pesquisa da UNIAFRO - Política de Promoção de Igualdade Racial na Escola, um projeto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Eles perceberam a necessidade de trabalhar a nossa diversidade racial e desconstruir este padrão de "cor de pele" rosinha e sugeriram a empresa Koralle o desenvolvimento do  material grafo-plástico. A caixa de giz, juntamente com um livro,está sendo utilizada por lá.

Quem quiser adquirir a caixinha pode buscar no site:
http://www.koralle.com.br/produto/giz-de-cera-pintkor-12-cores-324954


quarta-feira, 21 de maio de 2014

É papel do Judiciário analisar a validade e existência da religião?

Por Shirlene Marques

Imagens cedidas por Fafá M. Araújo




Uma das bases do Direito para a solução da lide (conflito) é a atitude  de uma “neutralidade” do juiz, para que a mais correta interpretação  da lei seja dada. Primeiro ele deve observar o que diz a nossa  Constituição, os pactos e acordos. Quando me deparei com a  divulgação de que o juiz  Eugênio Rosa de Araújo da 17.ª Vara  Federal do Rio de Janeiro havia posto em sua sentença que o  candomblé e a umbanda não são religiões, fiquei refletindo sobre as bases utilizadas pelo magistrado para tal fundamentação.

Com certeza, não fez uso da legislação, que orienta pelo direito à  diversidade de religiões. Ao contrário, foi buscar desqualificar as  religiões, partindo de pressupostos tão frágeis. Também não buscou  leituras mais aprofundadas existentes na sociologia da religião.


E o pior, o papel do magistrado nesta decisão foi além do pedido  jurídico. Havia uma petição do povo negro, via Associação Nacional  de Mídia Afro (ANMA) para que o Ministério Público Federal (MPF) fizesse  uma intervenção para a retirada de vídeos que ofendiam e faziam  ataques levianos sobre as religiões afro-brasileiras. O Google não  aceitou o pedido para tal retirada e o MPF então recorreu junto à  Justiça Federal, para que a mesma implementasse uma decisão  jurídica,visando a retirada do conteúdo que fere os postulados existentes no país, previstos na Constituição Federal.




O pedido exigia a aplicação da lei, da justiça na luta contra a  intolerância religiosa e o racismo. O que aconteceu foi o contrário, o  juiz Eugênio Araújo, negou o pedido da ANMA e fundamentou  afirmando que tais religiões afro-brasileiras não seriam religiões. Um  dos argumentos do juiz para desqualificar as referidas religiões foi a  inexistência de um livro “divino” a ser seguido. Tal argumento mostra que o espaço do juiz ao definir o que é ou não religião ultrapassou os  limites técnicos do fazer profissional. Pois, cabe à tantas ciências  sociais, como a Sociologia das Religiões e a Filosofia tais debates e análises. Debates estes, que definem claramente a validade e a vivacidade do candomblé e da umbanda como religiões.


Quando a Justiça se presta a um ato como estes, pratica-se um  retrocesso, não apenas jurídico mas social. Pratica-se um atentado  contra o povo (negro) que sofre opressão há séculos dentro deste Brasil. Pratica-se um ato de ignorância sobre tudo o que já se  produziu nas Academias deste mundo. Pratica-se a intolerância e a  falta de desejo de construir um país mais justo, mais democrático.


Sabendo de decisão jurídica, lembrei da figura ímpar e filha de Iansã  (um dos orixás cultuados no candomblé), a desembargora Luislinda  Valois. Chegaram a  minha mente nomes como a talentosa Maria  Bethânia (também filha de Iansã) e de Mãe Stella de Oxóssi ( que  recebeu o título de doutora honoris causa na Bahia). Todas elas são  mulheres de santo, mulheres que lutam cotidianamente contra tal  intolerância praticada e sentida.


Precisamos avançar e não retroceder. Que a justiça seja feita.


quinta-feira, 15 de maio de 2014

Cineasta negra brasileira aborda solidão feminina na velhice e garante espaço em Cannes

“O Dia de Jerusa” também nos faz pensar sobre a pressa cotidiana

A atriz Léa Garcia dá vida à Jerusa
Imagens: Divulgação O Dia de Jerusa

Por Shirlene Marques
De Recife (Pernambuco-Brasil)

Durante o mês de abril, em busca de minhas pautas fui “garimpar” comunidades do Facebook que falavam de cinema negro brasileiro e deparei-me com a alegria de algumas pessoas que comemoravam a seleção de um filme brasileiro, chamado o “O Dia de Jerusa”, para ser  exibido na programação de curta-metragem do Festival de Cannes, que está acontecendo na França até dia 25 de maio. Vi uma imagem grande com a foto da atriz Léa Garcia, bem conhecida de muitos, e imaginei primeiramente, que tal filme era fruto de algum cineasta já “calejado”.

Em buscas sobre o filme na grande mídia, não encontrava textos mais profundos, Restou-me o Facebook como fonte de pesquisa. Tudo me chamava à atenção nas postagens que via e indagações surgiram: “Como pode? o jornal não fala nada sobre tal feito?”. Fui atrás e descobri que o filme havia sido dirigido por uma cineasta negra baiana, que mora em São Paulo, de nome Viviane Ferreira. Mas quem ela era? Que filme era esta? Tinha  pouca informação até então, mas a mente cheia de curiosidades e de metas.

Compartilho, nesta semana,  em que Viviane Ferreira está em Cannes-França, juntamente com outra cineasta negra, a Eliciana Nascimento, a vitória de duas cineastas negras brasileiras. 

Traga nesta postagem o resultado de uma entrevista feita por e-mail com a jovem cineasta Viviane. Ela fala sobre as suas ideias no campo do cinema; ideias que são sedimentadas na certeza de que o cinema brasileiro precisa fomentar produções de cineastas negras(os)  para que possam voar alto.

“O Dia de Jerusa” é reflexão sobre velhice, solidão e juventude
A imagem de divulgação do curta nos traz uma senhora idosa, negra, com um olhar triste e andando sozinha. Parte da existência de um fato concreto que faz parte do cotidiano nas grandes cidades, a solidão na velhice. Retrata um fato, que até mesmo nós, o produzimos na correria dos nossos dias: a contribuição dos mais novos para tal mundo solitário. Esta é a grande reflexão trazida pelo filme dirigido por Viviane Ferreira e produzido por Elcimar Pereira.

“Um dia conheci uma senhora que estava bem amargurada e reclamava do comportamento ausente dos filhos.  A dor que aquela mulher transmitia ao falar de sua solidão me marcou de tal forma que senti a necessidade de escrever algo tendo a solidão como foco, então surgiu o roteiro do filme O Dia de Jerusa”, conta-nos a diretora.

O roteiro ficou dois anos engavetados e somente começou a se materializar com o apoio da empresa Odun Formação & Produção que é voltada para produção de conteúdo cultural com recorte de gênero. A produtora Elcimar Dias Pereira estava selecionando projetos, no ano de 2010, para formatar e concorrer em editais que financiam filmes.  O roteiro da cineasta foi um dos escolhidos para trilhar o caminho de uma possível realização. 

Viviane conta que tinha a certeza de que não daria para montar o filme de forma amadora e com poucos recursos. De acordo com ela, o Brasil não estimula a produção cinematográfica feita por negras(as) e deixa que muitos talentos fiquem à margem.  Entre a escolha do roteiro e  a aprovação do projeto em algum edital para financiamento público  passaram-se dois anos.

“ Escrevemos o Jerusa em todos os editais para curtas, federais, estaduais e municipais, até que em setembro de 2012 conseguimos vencer o edital de Fomento ao Cinema da Prefeitura Municipal de São Paulo”, relembra a diretora.

Com a verba em mãos, a cineasta conseguiu montar a equipe e fazer a gravação em março de 2013. Para interpretar o papel de Jerusa foi escolhida a consagrada atriz negra Léa Garcia, que divide as cenas com a jovem atriz Débora Marçal (Silvia). O curta gira em torno de um encontro entre as duas, entre as gerações.

Para retratar o cotidiano solitário de Jerusa Viviane decidiu concentrar as filmagens no famoso bairro do Bixiga, em São Paulo. “Escrevi o roteiro descrevendo aquele bairro, que guarda em si um histórico imbricado com a trajetória da população negra do centro de São Paulo. Gravamos a cena de “Kleber”, morador de rua, recitando trechos do poema “Mãe” de Luiz Gama, na rua Abolição,  isso simbolicamente nos diz muito. Seguimos gravando a cena dos  “apaixonados na rua”, na esquina da Abolição com a Jardim Francisco Marcos; neste local foi montada a primeira sede da Odun Formação & Produção, empresa que estimulou o nascimento do curta”, detalhou Viviane Ferreira. 

Atriz Débora Marçal interpreta a jovem Silvia


INDO PARA A TELA

A captação do curta foi feita em pouquíssimo tempo, foram duas diárias externas e duas internas. “Nossa equipe composta por aproximadamente 20 pessoas viveu um ritmo alucinante em diárias que por vezes ultrapassaram 10 horas de trabalho. Porém, a equipe se manteve firme, solidária e feliz, garantindo um set muito bonito, conduzido pela generosidade”, revela a diretora. O quesito generosidade teve o apoio da irmã de Viviane, que cedeu a própria casa, para que fosse completamente modificada para servir de cenário.



CONQUISTAS COM O DIA DE JERUSA


Em dezembro de 2013, o filme foi finalizado e não demorou muito para começar as andanças e conquistas.  No mês de março, o curta foi exibido no VII Encontro de Cinema Negro Brasil África Caribe: Zózimo Bulbul, no Rio de Janeiro, e naquele dia chegou um grande resultado positivo para o filme: “ Tínhamos acabado de estrear o filme na noite de abertura do Encontro e logo em seguida, recebemos a linda notícia de que o filme havia sido selecionado para ser exibido em Cannes”, relembra Viviane que está na França, representando o povo negro brasileiro.



Este maio de 2014 é momento importante para as cineastas brasileiras Viviane Ferreira e Eliciana Nascimento, duas negras baianas. Elas demonstram que a cor nunca deve ser empecilho para grandes sonhos e projetos. Revelando a necessidade urgente de se apoiar bons projetos nascidos de mentes negras brasileiras. Não tinha como deixar de perguntar à Viviane o sentimento de ir mostrar o filme em Cannes e deixo aqui o relato consciente da necessidade de mudanças  para a produção de filmes no Brasil:
“Tenho certeza que estar em Cannes significa muito para mim e para os meus, sinto o intensificar da responsabilidade que assumi junto a tod@s que contribuem com a minha trajetória. Vou para Cannes com a tranquilidade de que não é o holofote do glamour que me impulsiona à fazer cinema, mas consciente de que ele é importante para jogarmos luz na realidade desigual que a indústria audiovisual submete cineastas negros brasileiros. 

Estar em Cannes poderia ser algo rotineiro entre cineastas negros, se não enfrentássemos cotidianamente o racismo institucional. Como atos que impediram, de uma só vez, que 30 jovens negros realizem seus curtas-metragens que poderiam integrar a programação do Short Film Corner. Estar em Cannes ao lado de Eliciana Nascimento  representando minha Bahia, meu Brasil é a certeza de que não estamos sozinhas, é o resultado da determinação de nosso provo preto em manter suas narrativas gravadas nas pupilas do mundo”, relata e esclarece Viviane Ferreira.     

Acompanhe pelo Facebook:
https://www.facebook.com/odiadejerusa

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Apoiamos a campanha pela libertação das meninas nigerianas





Mais de 200 meninas, acima de 12 anos, foram sequestradas na Nigéria pelo grupo de extremistas Boko Haram. Os rebeldes muçulmanos estão violentando as meninas, segundo relatos de algumas vítimas que conseguiram fugir. O Postagens Negras se une nesta luta. Vamos divulgar e apoiar a campanha:




Confira informações e junte-se à campanha:

#bringbackourgirls


Postagens no Blogueiras Negras:
http://blogueirasnegras.org/2014/05/07/bringbackourgirls-a-nigeria-chora/


segunda-feira, 5 de maio de 2014

Os Orixás na infância em Cannes 2014



Imagens: Imprensa The Summer of Gods


Por Shirlene Marques

Em minhas buscas por boas pautas, no mar do Facebook, deparei-me com uma imagem e frase que me chamaram a atenção e que poderia ser pauta para o blog: Uma idosa e uma menina negra vestidas com os trajes usados no Candomblé, religião afro-brasileira que cultua os orixás. 

Inserida na imagem estava a informação de que o filme “The Summer of Gods” era um dos selecionados para ser exibido no maior Festival de cinema mundial, o Festival de Cannes, que será realizado entre os dias entre os dias 14 e 25 de maio de 2014, na França. Porém, parecia ser obra produzida por estrangeiro e o foco do meu trabalho é garimpar a produção das nossas negras e negros.

Fiquei cheia de perguntas e nada encontrava na mídia brasileira sobre tal filme. Informações oficiais da obra estavam em inglês e isto me deixou curiosa. Mas encontrei um caminho que decifrava: o filme era dirigido por uma negra brasileira de nome Eliciana Nascimento. Mas havia muito a ser descoberto. Missão conseguida com o apoio de outra cineasta negra brasileira, Viviane Ferreira, que também terá o seu filme O Dia de Jerusa exibido em Cannes. Ela fez a ponte para a realização desta entrevista com Eliciana, que me respondeu por e-mail, de San Francisco (EUA). A cineasta nos traz respostas que vão além dos quesitos técnicos, traduzindo a força de um filme que foi concretizado graças a uma campanha para arrecadar fundos.

Por dentro do The Summer of Gods

Quando se fala de Cannes, nós fazemos a conexão de que naquele espaço estarão reunidos poucos filmes, porém detentores de aspectos que o dignificaram para tal seleção. Seleção ora para a mostra competitiva, ora para exibição dentro da programação do Cannes Curta Metragem. 


Estar naquele espaço mostrando um filme, é digno de louvor. E, mais digno ainda, quando se descobre que um dos filmes selecionados para o “Short Film Corner”, o curta “The Summer of Gods” foi pensado e dirigido por uma mulher negra, brasileira, baiana, filha de um pai pedreiro e de uma mãe doméstica, a cineasta Eliciana Nascimento. 

O curta nasceu como projeto de conclusão de mestrado em cinema pela San Francisco State University, na Califórnia (EUA), por este motivo o título está em inglês, mas terá tradução para “O Tempo dos Orixás”.  Tudo começou quando ela fez uma atividade em classe sobre o resgate da memória: “ Relembrei o tempo que visitava a minha vó no interior da Bahia, onde naquele tempo e espaço fui  introduzida na tradição dos Orixás. O filme retrata minha experiência de infância; revela as memórias de minha mãe e descortina minha própria experiência de ser iniciada ao culto dos Orixás, depois de adulta”.


Para obter uma maior realidade ao roteiro, a meta da cineasta era fazer a gravação no Bahia. Mas Eliciana, então estudante, não tinha dinheiro para arcar com tal projeto.  “Resolvi fazer uma campanha online para buscar ajuda de amigos e familiares através do site Kickstarter. Embora tenha investido no filme, mais do que solicitei, a campanha foi um sucesso e pude contar com ajuda de 200 pessoas de várias partes do mundo. Fiz um vídeo com um brief sobre o filme e tive a participação de alguns dos meus professores de cinema. Além deles, o ator e ativista Danny Glover participou da campanha voluntariamente para me ajudar a buscar recursos”, explicou a cineasta.

Poucos dias

Com os recursos obtidos, Eliciana produziu o curta em 30 dias e em apenas uma semana captou as imagens na Bahia, exatamente no local que originaram as inspirações para o roteiro. “ Cerca de 90% do filme foi gravado em Ituberá, Bahia e redondezas da Costa do Dendê, que foi a cidade onde minha mãe nasceu e onde os meus ancestrais se originaram. Foi lá onde a minha vó morava em um quilombo e onde aprendi sobre o culto aos orixás”, detalhou Eliciana. Apenas uma cena foi gravada em Salvador (Bahia), a que simboliza a iniciação, pois os recursos não foram suficientes para levar o grupo de atores até o interior.   

No quesito equipe, Eliciana optou por poucos profissionais. Foram cinco na Bahia, durante a produção e seis no processo de pós-produção, que foi realizado nos Estados Unidos.  Para compor o elenco, a diretora contou com oito atores principais como a pequena Isabela Santos (Lili ) e Rosalinda Santos (Vó). O curta conta com a participação de 45 pessoas oriundas de grupos religiosos, bailarinos, músicos e habitantes do quilombo Riachão. 


Eliciana Nascimento (de camiseta branca) 

Com quatro meses utilizados para finalização, The Summer of Gods ficou pronto para seguir a caminhada que começa em Cannes, na França. Fiz uma pergunta para Eliciana sobre toda a representatividade deste fato para ela. Irei quebrar as regras do jornalismo e copiar a sua “longa” resposta. Ela vai além da técnica:

“Ter o meu filme na programação de curtas de Cannes significa muito para mim. Eu sempre sonhei grande, sempre pensei grande e sempre quis ser grande, mas nunca sabia aonde minha mania de grandeza iria me levar. Graças aos meus orixás, ao meu respeito e dedicação que tenho a minha tradição fui concebida essa oportunidade. Tá sendo muito difícil para eu conseguir recursos para ir para Cannes. Já esgotei os meus recursos, acabei de me graduar e ainda estou tentando me estabilizar depois do gasto em produzir o filme. Mas farei o que puder para atender o Festival, pois essa é uma oportunidade única. Não é todo dia que uma mulher negra da periferia de Salvador, que cresceu em escola pública, filha de empregada doméstica e pedreiro que tem a chance de ir para Cannes com um filme escrito, produzido e dirigido por ela. Então tenho que ir para representar todas as meninas do meu bairro. Desejo que elas cresçam com essa ambição e aspiração de uma história melhor para nós mulheres negras. Com muita fé e axé chegarei lá”. Esta é Eliciana Nascimento.

Confira:

domingo, 4 de maio de 2014

Anjo Negro ancestral em cena

Ângelo Fábio (Anjo Negro) - Imagens: Fernando Azevedo



Peça encerra a temporada no Recife

Há 68 anos, Nelson Rodrigues escrevia o texto da peça Anjo Negro. Ele queria retratar a existência do racismo sentido pelos negros; racismo praticado por brancos e também praticado pelo próprio negro. Não imaginaria que tal preconceito ainda insiste, sendo fonte para  a encenação do seu texto em terras recifenses, com o espetáculo "Anjo Negro - Um Nelson Ancestral", que termina sua temporada neste domingo (04.05), no Teatro Barreto Júnior.

Mais de 6 décadas se passaram e continuamos vivenciado tal racismo que se reflete em atos que ocupam variados espaços, que vão dos reais, aos virtuais. Em tempos de discussões que giraram em torno de "bananas, macacos e negros", é importante ter acesso à montagens teatrais como o Anjo Negro e sair da peça com a "mente" cheia de indagações.

Uma oportunidade para tal reflexão, é assistir o espetáculo produzido pelo grupo pernambucano "O Poste Soluções Luminosas", que tem sua última encenação neste domingo, 04 de maio, no Recife. O espectador que for conferir a encenação poderá presenciar todo um projeto que foi pensado sob o olhar de um Nelson Rodrigues "revisitado" pelas características da ancestralidade negra.

"Neste trabalho tentamos mostrar não só a questão do preconceito, mas revestir a história com características da cultura africana e de sua religiosidade. Queremos deixar esta marca de forma sutil, não estereotipada", resumiu Samuel Santos, responsável pela encenação e cenografia. A peça tem no elenco: Ângelo Fábio, Agrinez Melo, André Caciano,Nana Sodré, Maria Luísa e Smirna Maciel.

Mais em:

Imagens:
É possível conferir cliques da peça retratadas pelo fotógrafo Fernando Azevedo


Serviço:
Anjo Negro, peça do grupo O Poste Soluções Luminosas
Quando: 04/05-  domingo
Loca: Teatro Barreto Júnior – R. Estudante Jeremias Bastos , S/N - Pina
Recife – PE | Fone | (81) 3326-4177
Horário:20h
Valores: R$ 20 (inteira) e R$10 (meia).
Censura – 18 anos



sexta-feira, 2 de maio de 2014

Festival Latinidades 2014




Em Brasília/DF

Unir em um único espaço a diversidade produzida por mulheres negras, da América Latina e do Caribe, é o objetivo do Festival Latinidades, que acontecerá, entre os dias 23 a 28 de julho, em Brasília. Este é o sétimo ano do evento que irá aglutinar trabalhos dos campos de literatura, cinema, moda, música, saúde, negócios e políticas públicas.

Literatura

Estão programados, para o dia 25/07, os lançamentos dos seguintes livros: “Coletânea Poética”, obra coletiva da Ogum's Toques Negros; “InCorPoros − nuances de libido”, de Nina Silva e Akins Kinte; “Pretextos de Mulheres Negras”, obra coletiva organizada por Elizandra Souza e Carmen Faustino.

Além dos livros também será lançada a " Revista Afirmativa”, um projeto dos Estudantes de Jornalismo da UFRB; e “Versos de la Diaspora/Verses from the Diaspora”, de Tony Polanco-Bethancourt (Panamá/EUA). 

Saúde 

Para debater o aspecto da saúde no cotidiano,enfatizando o trabalho feito pelas sacerdotisas e sacerdotes das religiões afro-brasileiras,  benzedeiras e parteiras, será realizada a mesa de debates “Griôs da Saúde Integral”. 

Farão parte do debate:
-Adriana de Holanda, psicóloga, coordenadora da Rede Independente Educação Griô/Grupo Semente de Jurema e zeladora da Casa de Jurema do Rei Salomão (Niterói-RJ)
-Dona Francisca Leandro, parteira e líder comunitária em Belo Horizonte (MG).
- Dona Iradilva Miranda Dantas, benzedeira/curandeira e membro da Malungu − Coordenação Estadual das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará
-José Marmo da Silva (Ogan Marmo), coordenador da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro)

Cinema
Destaque para a exibição do filme " O Dia de Jerusa", de Viviane Ferreira. O curta, que foi selecionado para ser exibido em Cannes 2014, aborda a solidão na vida das idosas. A produção é estrelada por Léa Garcia e Débora Marçal e produzido por Elcimar Dias Pereira.

Moda, comportamento e negócios
O Festival abrirá espaço para oficinas de turbantes, vendas de livros e troca de ideias que favoreçam o surgimento e crescimento de negócios. Destaque para a Feira Preta.

Você pode acompanhar novidades sobre o Festival acessando:

https://www.facebook.com/pages/Latinidades-Afrolatinas

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Lavadeira longe de nós





Em tempos de tantos post´s relativos ao tema racismo, é importante deixar anotado o posicionamento preconceituoso da governança pernambucana que ainda insiste em negar a herança africana dentro das nossas terras. Há alguns anos, já vínhamos assistindo ao desmantelamento da Festa da Lavadeira com parcos recursos e falta de local para a festa popular que homenageia aspectos da religião afro.

O cancelamento da Festa da Lavadeira no Recife em 2014 é mais do que sinônimo de falta de verbas ou coisas do tipo. Na realidade, é a expressão de que ainda temos muito a avançar no quesito relativo à igualdade racial e respeito ao outro e às suas origens. Bom lembrar que na nossa vizinha Bahia, Iemanjá é reverenciada todos os anos, no famoso 2 de fevereiro, reunindo milhões de pessoas. Público este, que não é formado apenas pelos seguidores do candomblé, mas por muitos que entendem e respeitam a multiplicidade da fé em seus aspectos culturais e religiosos.

Enquanto isso, Pernambuco anda para trás!

Para entender o cenário sugiro:
Central PE
http://www.centralpe.com.br/2014/04/com-a-festa-cancelada-a-boneca-lavadeira-vai-passear-nas-ruas-do-recife/

terça-feira, 29 de abril de 2014

Sobre bananas e racismo


Fiquei um dia só no processo de observação desta onda enlouquecida de que "SOMOS TODOS MACACOS". Bem certo que a internet é um meio mega veloz e que muita gente sai postando e compartilhando ao quatro ventos, sem refletir muito o que tá fazendo.

Mas essa onda, que infelizmente, tem a frente gente de mídia como Neymar, Daniel Alves e agora famosos, está totalmente equivocada.

Com maior respeito aos animais, eu não sou macaca! Adoro bananas, não como carne vermelha e luto por um mundo mais justo. Racismo é crime e quem o pratica deve merecer a justa punição.

Só lembrando: #nãosomosmacacos

Luciano Huck vendendo camisa:


Dica de leitura lúcida do colunista da Carta Capital, Belchior:

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Lentes negras ao nosso lado


Fotos: Fafá M. Araújo

Esta pequeno texto é motivo de alegria para o Postagens Negras. O nosso blog vai contar agora, com os olhares negros do fotógrafo Fafá M. Araújo (Salvador/BA). Ele disponibilizou seu arquivo de imagens para que tivéssemos a oportunidade de dizer em "cor e forma", aquilo que nos falta na palavra.

Fafá, gratidão pelo apoio. Vamos em frente unindo mãos.



O trabalho dele pode ser conferido aqui:
https://www.facebook.com/Fafa.Araujo.fotografia

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Cinema negro brasileiro ocupará tela em Cannes 2014



Imagem do filme O dia de Jerusa/Foto: Léo Guma

Durante estes dias de feriadão, acessei muitas matérias que falavam sobre o Festival de Cannes, que se aproxima. Uma frase, chamou-me a atenção, exposta de forma contundente em vários textos:  "Nenhum filme brasileiro em Cannes". Entendo que tal frase, refere-se ao quesito de filmes que irão concorrer aos prêmios.

Porém, isto deixa-me a sensação de quanto a nossa grande mídia ainda peca em não abordar de forma adequada, produções como "O dia de Jerusa", de Viviane Ferreira, e o "The Summer of Gods", de Eliciana Nascimento. Os dois filmes serão exibidos em Cannes 2014, dentro da programação de curtas e isto significa que é uma grande conquista de duas diretoras negras brasileiras.

Que verdadeiros espaços se abram num processo mais plural.

Confira mais sobre "O dia de Jerusa" pelo face:
https://www.facebook.com/odiadejerusa


Orixás nas telas de Cannes


O curta "The Summer of Gods", da baiana Eliciana Nascimento, foi selecionado para ser exibido no Festival de Cannes, na França. 

Confira mais em: 



Nasci negra depois dos 30


2014 é o ano do meu nascimento. Durante 36 anos, ou desde o que  dia em que tenho lembranças de quem fui ou tornei-me a ser, fui  "morena clara", morena e também achei-me branca. Mas,eu negra?  não,não...

Como todo ser humano que constitui-se dentro do seu meio, fui  educada como sendo branca, de religião católica. Nunca havia feito  nenhum questionamento sobre a minhas heranças africanas. Ao  contrário, vive lutando para negar marcas genéticas, como o tipo de  cabelo. Cabelo este que eu considerava ruim e difícil de se manter  domado, dominado. 

Quado a idade de moça foi chegando, achava-me feia e escondia-me  em mim.Porém quando o som dos tambores ecoava através dos  grupos afro que eu via na televisão, sentia fortaleza e atração.Naquela  tempo, eu menina-moça morava à beira do rio São Francisco, nascida   em terras baianas de Juazeiro e crescendo em terras  pernambucanas de Petrolina. Missas e alisamentos colocavam tão  herança bem longe de mim.

Mas o gosto pela música vindo da minha Bahia, onde foi gerada e  recebida, ecoava em minha alma e me trazia sensação de ligação e  que querer chegar mais perto. Mas eu? negra não! A música era  deles..

No crescimento do corpo físico e desejo de crescimento intelectual  sigo para capital Recife, desejando o Jornalismo. Os olhos abrem-se  para novos "mundos" representados em sons, em textos, em gente.  Era maracatu, coco, ciranda...Som que ecoava em mim.  Conquistando-me...religando-me. Mas eu? negra não!

O som dos tambores, o bailar dos grupos afro me encantaram. Os  primeiros anos na capital também marcaram a minha vida na busca  por uma religiosidade mais profunda. Foram tempos de andanças e  de buscas...Mas eu, "morena". 

Os dogmas do catolicismo já não me pertenciam. Abraço o espiritismo  kardecista que mostrou-me o valor da nossa caminhada e a  imensidão do mundo espiritual. Mas, negra não. Religiões afro- brasileiras, não, não. Não poderia fazer parte de mim. Ali era espaço  para eles.

E em meio aos vendavais encontrei o candomblé, ou o candomblé me  encontrou. Assim vi me sendo iniciada aos 34 anos, adentrando em  novos espaços que me permitiram ver tamanha riqueza. Mas, eu,  ainda branca. E neste espaço fui percebendo a riqueza e a fortaleza  do meu povo negro.

Eis aqui, aos 37 anos pude nascer negra. Nascimento que não foi  forçado como na cesárea. Foi parto natural, parto amadurecido, parto  que esperou tantos anos, filho mais que desejado.  Foi gestado e  alimentado com leitura, pois nasceu um tempo em busca da cura  física que foi transformada em tempo de alimento.

Nasci negra em meio à busca da cura física. Nasci negra e agora  como uma criança tenho desejos infinitos de entender este meu  mundo negro. Cada dia tem sido posto para grande descobertas,  momentos do passado que tento entender, pessoas e fatos que tento  entender. Encantamento com a vida nova. Braços vão sendo  apresentados a mim, mãos me ensinam a caminhar, pessoas  maravilhosas vão me guiando. E como toda criança, vou enchendo  meu coração de sonhos e ficando feliz com os presentes que me  chegam.

# Shirlene fica feliz com cada amigo e amiga que têm feito  pelos quatro cantos do Brasil. Tem Xangô como seu orixá de cabeça e  deseja semear ações que eliminem o racismo e as injustiças contra o  povo negro. Também deseja contribuir com novos nascimentos  negros. Sua casa espiritual é o Terreiro Xambá (Olinda).

Ponta de Pedras, Goiana, Pernambuco, 19 de abril de 2014 (Sábado  de aleluia para os cristãos).

sábado, 12 de abril de 2014

Livros digitais gratuitos




Uma boa dica, para quem deseja agregar conhecimento de qualidade e sem ter custos, é baixar obras digitais que abordam a história da África e a presença do negro no Brasil.

Na página do Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA,você encontrá bons materiais.

É só conferir:
http://www.ceao.ufba.br/2007/livrosvideos.php
A divindade do tempo em mim
Postagens marcadas pela ancestralidade negra




A busca pelo processo de cura física trouxe-me oportunidades e crescimento. Tempo de acreditar, de viver as horas de um outro jeito. O tempo tão corrido, aquietou-se. Era preciso dar tempo ao corpo, esperar os milagres cotidianos experimentados por nós: "Tempo, tempo, tempo...é um dos deuses mais lindos, né Betânia?" 

Na divindade do tempo, encontrei-me novamente com o gosto pela escrita comprometida com uma causa, com um caminhar..

Causa comprometida com a minha ancestralidade, com a riqueza deixada em meu sangue pelo meu povo negro. Pela riqueza deixada em meu espírito. Pela fortaleza e proteção dos meus orixás.

A oportunidade trazida junta com o tempo, trouxe-me a oportunidade de fazer leituras, enquanto meu corpo era cotidianamente submetido aos medicamentos, aos tratamentos, aos exames. Fiz do tempo em consultórios, clinicas e hospitais meu amigo para ler.

Era tanta informação assimilada que acabou transformando-se em um desejo. Desejo de compartilhar tanta coisa fortalecedora. Aos poucos e de forma tão forte, descobri-me mensageira; mensageira do mundo a mim desvelado. 

Sinto-me na " obrigação" em forma de gratidão de espalhar o que me chega, de unir forças ao lado de tanta junta que também acredita em espaços construídos visando à igualdade racial, à justiça. 

Eis que, numa sexta, à noite, quanto tantos estavam pelas ruas,  fez-se o "parto " de POSTAGENS NEGRAS...

Eis-me aqui a anunciar a minha cria...Cria que foi fertilizada com a criatividade do meu povo negro, com os Toques Negros.

* Gratidão à minha família que me acompanha e me sustenta neste processo de cura.
* Dedico ao meu filho Cauê, semente gerada em mim.
*Gratidão ao escritor Marcus Guellwaar Adún Gonçalves, que derrama de forma virtual lanças de força. 

Recife, 12 de abril de 2014
Literatura Negra
A efervescência da Ogum's Toques 


Imagem: Facebook Ogum's  Toques. Fafá M. Araújo

Escritores, ensaístas e poetas povoam a rede e publicam obras (reais e virtuais) com uma efervescência marcada pela força. Uma boa dica para acompanhar esta esfera é acompanhar o trabalho da Ogum's  Toques Negros. 

A iniciativa é do Coletivo Literário Ogum's  Toques e da Editora homônima, que lançaram (em papel) uma coletânea agregando diversos poetas negros.


O perfil no Face é espaço rico e atualizado. Vale a pena!

Confira:
Face: https://www.facebook.com/OgumsToques
Site: http://ogumstoques.com/
Intolerância religiosa
OAB atua no caso de terreiro incendiado em PE

Uma das manifestações mais visíveis de intolerância religiosa é a destruição dos espaços sagrados. No dia 01 de abril, o terreiro Ilê Axé Ogum Toperinã, em Goiana, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, foi invadido, depredado e incendiado. 

O caso está sendo acompanhado pela Comissão de Direito e Liberdade Religiosa da OAB-PE.

Saiba mais:
http://www.oabpe.org.br/2014/04/oab-pe-acompanha-caso-do-terreiro-incendiado/

sexta-feira, 11 de abril de 2014

LITERATURA
Entrevistas com Ebomi Cidália viram livro
Vivências de mais de 70 anos no candomblé foram reunidas



O livro "Ebomi Cidália – A Enciclopédia do Candomblé – 80 anos” é uma homenagem à sacerdotisa do Ilê Axé Iyamassê (Terreiro do Gantois). A obra, lançada no dia 11 de abril (Salvador) é uma homenagem à ebomi Cidália Soledade, que faleceu em 2012 com 82 anos.

Ebomi Cidália tinha 75 anos de consagração à religião dos orixás. Era dona de um grande carisma. Ficou conhecida pela sabedoria e capacidade de transmitir conhecimento numa linguagem que era facilmente absorvida pelo público a quem se dirigia. Por conta disso recebeu do professor Jaime Sodré o título de “Enciclopédia do Candomblé”.


Saiba mais:
http://www.igualdaderacial.ba.gov.br/2014/04/publicacao-destaca-a-vida-de-ebomi-cidalia-a-enciclopedia-do-candomble/